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Cibersegurança, Bug Bounty e o Cenário Brasileiro – Uma Análise Estratégica

  • Foto do escritor: IPV7
    IPV7
  • 24 de abr.
  • 3 min de leitura

Por Rudinei Carapinheiro, CSO da IPV7 Cloud


Introdução: A Era da Vulnerabilidade Compartilhada

A rápida transformação digital dos últimos anos não somente revolucionou a forma como vivemos e trabalhamos, mas também expôs uma incômoda realidade, quanto mais conectados, mais vulneráveis nos tornamos. Segundo o Cybersecurity Ventures, a cada 11 segundos um ataque cibernético é registrado no mundo, um ritmo 300% superior ao observado em 2019. Diante desse cenário, a cibersegurança deixou de ser um tema restrito a turma de TI e se tornou uma prioridade estratégica de governos, corporações e até indivíduos.


Neste contexto, os programas de Bug Bounty surgem como uma resposta rápida e inovadora. Mais do que uma ferramenta técnica, eles representam uma mudança de paradigma: em vez de depender exclusivamente de firewalls e sistemas de detecção, que são passivos, as empresas estão adotando uma postura muito mais proativa, recrutando Hackers do Bem para identificar brechas antes que sejam exploradas.


Mas como aqui no Brasil, um país em franca expansão digital e que a sociedade brasileira é uma das mais conectadas do mundo, está lidando com essa nova fronteira da segurança?


Bug Bounty: Mecanismo de Defesa ou Revolução Colaborativa?

A lógica por trás do Bug Bounty é simples, mas muito poderosa. Nenhuma organização, por mais sofisticada que seja, consegue estar preparada para todas as vulnerabilidades de seus sistemas. Plataformas como HackerOne e Bugcrowd criaram ecossistemas globais onde mais de 1,5 milhão de especialistas em segurança caçam falhas em troca de recompensas que variam de US 500 a US 250 mil, isso dependendo da criticidade.


O sucesso desses programas está na capacidade de escalar a inteligência coletiva. Enquanto uma auditoria interna pode levar meses e custar milhões, um Bug Bounty mobiliza milhares de especialistas pelo mundo, em tempo real, focados em cenários reais de exploração. Isso é a democratização e globalização da segurança: quanto mais especialistas olhando, menor a chance de falhas passarem despercebidas.


O Brasil no Tabuleiro Mundial: Avanços, Desafios e Paradoxos

No cenário brasileiro, o movimento ainda está muito acanhado, mas é promissor. Empresas como Nubank e Magazine Luiza já adotaram programas estruturados, com resultados expressivos. Só em 2023, o Nubank reportou a correção de 132 vulnerabilidades críticas em seus sistemas, graças a uma comunidade de mais de 3 mil white hats. Já o Magazine Luiza, após sofrer um ataque em 2021, implementou um Bug Bounty que reduziu incidentes em 60% no último ano.


No entanto, o setor público brasileiro ainda patina, vide o fato ocorrido no dia 04 de fevereiro de 2025 em que vazou dados de 39 Milhões de brasileiros cadastrados no CAT no INSS. Já em países como Estados Unidos e Índia que possuem políticas federais para incentivar Bug Bounties em órgãos governamentais, no Brasil, iniciativas como o programa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) são exceções. A burocracia, aliada à falta de orçamento específico, mantém a segurança pública digital refém de modelos reativos.


Os números mostram a urgência de mudanças. Segundo a Apura Cybersecurity, os ataques ransomware aumentaram 40% no país em 2023, com prejuízos estimados em R$ 100 bilhões. Setores críticos, como saúde e energia, foram os mais afetados, muitas vezes paralisados por dias devido à falta de protocolos de resposta ágeis.


Os Pilares para um Ecossistema Seguro: O Ǫue Falta ao País?

Para que o Brasil se torne um líder em cibersegurança na América Latina, três pilares precisam ser fortalecidos:


  1. Educação e Profissionalização

    Apesar do crescimento de eventos como o HackersBR e a Campus Party, ainda há um déficit de 750 mil profissionais qualificados no país, segundo a Fortinet.

    Programas de formação técnica, aliados com parcerias entre universidades e empresas, são essenciais para transformar entusiastas em especialistas.

  2. Regulamentação Ágil

    A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) foi um avanço, mas a vejo como insuficiente, precisamos de normas que estimulem a adoção de Bug Bounties, como isenções fiscais para empresas que investirem em segurança colaborativa, além de diretrizes claras para proteger Hackers do Bem de ações judiciais inadvertidas.

  3. Cultura de Colaboração

    Enquanto muitas organizações enxergam Hackers como ameaças, líderes e empresas visionárias já os veem como aliados a segurança de suas operações.


Conclusão: Pontes ou Brechas – A Escolha é Estratégica

A segurança digital não é uma batalha de uma pessoa só, mas uma guerra de um batalhão. O Brasil tem todas as condições de liderar esse movimento na América Latina, uma base tecnológica em expansão, uma comunidade de White Hats vibrante e casos de sucesso que servem como referência.


No entanto, o caminho exige mais do que investimentos apenas em ferramentas. É necessário priorizar na lapidação dos diamantes brutos que possuímos no Brasil através de formações de qualidade, modernizar as atuais políticas públicas e, acima de tudo, entender que vulnerabilidades não são sinônimo de fracasso, mas uma oportunidade de evolução.


Como costumo reforçar em meus projetos na IPV7 Cloud: “Um sistema seguro não é aquele sem falhas, mas aquele que transforma vulnerabilidades em pontes, não em brechas”. Essas pontes dependem de todos nós, empresas, governos e sociedade civil.

Vamos construí-las juntos?

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